sexta-feira, maio 05, 2006

Um equívoco que dura 15 séculos

Religião

Tudo começou com o sermão proferido pelo Papa Gregório, O Grande, no ano de 591. Nele existe a seguinte afirmação:

“Aquela que Lucas chama de pecadora que João chama de Maria (de Betânia) acreditamos ser a Maria de quem, segundo Marcos Jesus expulsou sete demônios”.

Ou seja, o citado Sumo Pontífice afirmou que Maria Madalena, Maria irmã de Marta e Lázaro e a mulher que unge Jesus na casa de Simão, o fariseu leproso, seriam a mesma Maria. Deste momento em diante, Maria Madalena passaria a ser conhecida a prostituta arrependida perdoada por Jesus. Essa posição ganhou contornos dogmáticos, tornando-se doutrina católica por vários séculos até que em 1969, sem qualquer alarde, este entendimento foi revisto. Nesta ocasião houve a separação entre as mulheres mencionadas.

Ocorre que, biblicamente falando, tal entendimento mostra-se totalmente equivocado, sendo este o escopo do presente artigo, tentar demonstrar a imprecisão histórica de se juntar todas as "Marias", numa só.
Para isso vejamos: Lucas 8, 1-3 apresenta a seguinte redação:


"1 - Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze,
2 - bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios.
3 - Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens".


Este texto deixa claro que Maria Madalena, após ter sido exorcizada, transformou-se numa das seguidoras de Jesus, estando sempre com ele, sendo uma das pessoas que sustentava o Ministério deste. Diante disto, infere-se facilmente ainda, que a mulher da qual Jesus expulsou 7 demônios, seria rica. Em Lucas, 7, 36-39 encontra-se o seguinte dado histórico:


"36 - Um dos fariseus convidou-o para comer com ele; e entrando em casa do fariseu, reclinou-se à mesa.
37 - E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo;
38 - e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.
39 - Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora"
.


Como visto, em Lc, 8, 2-3, Maria Madalena acompanha a peregrinação de seu mestre, portanto não faria sentido dizer que apesar de estar junto deste, ela não soubesse onde o mesmo estaria. Não restam dúvidas que esta mulher “pecadora”, a despeito de o amar muito, não estava sempre em sua companhia. Em João 11, 1-2 e 12, 3, a mulher anônima que ungiu Jesus é identificada como a irmã de Marta e Lázaro, isto é, a pecadora é a mesma Maria de Betânia, mas não Maria Madalena, in verbis:


"11...
1 - Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 - E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos."

"12...
3 - Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo."


Em seguida, outra passagem bíblica deve ser colacionada para ser objeto de análise, trata-se novamente do livro de Lucas agora em seu capítulo 10, versículos 38-39:



"38 - Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa.
"39 - Tinha esta, uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra"
.



Interpretando sistematicamente o Livro Sagrado dos cristãos, resta evidenciado que as Marias referidas em Lc, 8,2, e em Lc, 10, 39, são pessoas distintas. A primeira já havia sido mencionada no mesmo Evangelho, inclusive com seu traço distintivo, qual seja, Madalena, note-se ainda, que em todos os evangelhos, nas ocasiões onde há referência a esta discípula, o termo está presente. Diante do exposto, está biblicamente provado que a mulher citada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, (sendo chamada ainda, de pecadora por este último) ungindo Jesus é na realidade Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro, e não Maria Madalena como sugerem algumas denominações cristãs, bem como alguns padres católicos, ainda nos dias de hoje.

3 comentários:

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Anônimo disse...

belo artigo, bem legal esse texto.

quanto ao seguinte, não ficou muito claro para onde tendeu a história, se para o Marcão, ou para o outro. Quanto à ciência, até hoje nem comprova, nem refuta a idéia da existência de Cristo...

Anônimo disse...

Não tive tempo de ler tudo Religião é algo que me irrita muito.Mas uma coisa muito estranha para mim é essa história de Lázaro.Primeiro porque ressucitar um cara que depois ia morrer de novo e pra sempre,e o pior o cara esteve do outro lado coisa que o mundo deseja saber o que tem do outro lado e não disse nem uma palavrinha....Isso é que me irrita.