quarta-feira, novembro 29, 2006

Se Deus não existe no que está fundada a Moral?

Era madrugada, Marcão estava deitado em sua casinha, quando ouve um ruído, ele se levante imediatamente e dispara na direção do barulho. Chegando lá, depara-se com um sujeito que acabara de pular dentro do quintal da casa, o cachorro gruda na coxa do sujeito, ficando ali por "muitas horas" (ao menos no ponto de vista do assaltante), ao final arranca-lhe uma lasca de carne que sai regada a muito sangue. O rapaz grita de dor, acordando toda a vizinhança. A ambulância é chamada e o invasor é levado. Na manhã seguinte, quando os ânimos descontraem, Gatuno vai conversar com seu colega:

- Por que você fez aquilo na perna do cara? Você não deveria ter feito isso, Marcão! Afirma o gato.

- Não deveria por quê? Pergunta Marcão, em tom desafiador.

- Isso é imoral! Você viu como ficou a perna dele. Pensa na dor que ele deve ter sentido. Pode ter certeza que a Moral Divina reprova, violentamente, este seu ato!

- Eu simplesmente agi conforme manda minha natureza, Gatuno. Além disso, eu tenho a minha própria Moral, até porque, para existir uma "Moral Divina" é preciso haver um "Deus". Responde Marcão, com uma ponta de ironia.

- Marcão, a moral só tem razão de existir se Deus existir. Como afirma Dostoiévski, falando pela boca de seu personagem, Ivan Karamazov: "Se Deus não existe, então tudo é permitido."

- Gatuno, você está misturando Moral com Religião. Se é assim, então como você explica o fato de alguns ateus se submeterem a princípios morais, tão rígidos quanto muitos teístas?

- Essas pessoas, obviamente, são influenciadas pelos adeptos da Moral Divina. Até porque, Marcão, assim como leis jurídicas precisam de um legislador que as crie, a Moral requer igualmente, uma fonte última de moralidade. Isto é, os valores morais, para terem autoridade, devem possuir uma origem exterior aos indivíduos cujo comportamento, pretende regular.

- Você, está confundindo as coisas - responde Marcão - os valores morais são internos e bem mais profundos que o teísmo jamais sonhou alcançar. Já Deus, é uma questão separada e externa, em momento algum eles se entrecruzam.

- Marcão, não tente enganar a si próprio. Lembre-se que você tem o conhecimento, portanto, quando chegar perante Ele - neste momento, Gatuno aponta para o céu - ninguém poderá alegar ignorância invencível em sua defesa.

- Não sabe o que dizer, Gatuno?

- Levar uma vida Moral somente se explica - complementa Gatuno - se efetivamente existir um Deus e uma vida após a morte. Isto é, somente se houver um Deus apto a julgar os atos praticados na Terra é que poderemos ter a certeza de que uma vida virtuosa poderá ser também proveitosa. Isso significa que se Deus não existir, como você apaixonadamente defende, quem se conduzir de modo errado não será punido, o bem não será recompensado. Diante disto, qual será o benefício de alguém levar uma vida correta, no sentido Moral da palavra, se no final teremos apenas o fim da consciência? O apóstolo Paulo demonstra com maestria que se não existe vida além do túmulo, correto estão os hedonistas. Outra coisa, qual seria a fonte dos preceitos morais, senão Deus? Deus é o início e o fim de tudo, Marcão, inclusive da Moral.

- Papo furado! Não existe Deus ou qualquer ente supernatural na base da moralidade. Os códigos morais são alcançados de modo consensual, graças à orientação das regras inatas e empíricas do próprio povo a que se destinam. A Moral pode ser explicada de modo biológico, é inata, a evolução dotou todos nós* da capacidade de distinguir, intuitivamente, o que é certo do que é errado. A Moral, na forma como a conhecemos, nos foi imposta por nossos genes, para nos obrigar a cooperar. Enfim, como eu disse, não existe fundamento externo para a Moral...

- Pelo que você diz, nós seríamos bons por natureza, entretanto, veja em Lucas que Jesus diz que nós somos maus, derrubando sua tese por completo. Entenda que a noção de certo e errado inerente à todos nós, não pode ser explicada de modo biológico e muito menos pela experiência.

- "Marcão, vem cá Marcãozinho". Era a dona da casa, interrompendo a conversa para recompensar o cachorro por sua bravura naquela madrugada.

* Marcão e Gatuno imaginam estar no mesmo nível dos seres humanos, por isso em momento algum se excluem deste debate Moral, entretanto, neste ponto ambos estão equivocados, pois as regras morais regulam tão-somente o comportamento humano.

quinta-feira, novembro 23, 2006

E agora Petraglia?

O jogo de ontem (ou hoje) era perigoso, o Atlético precisava ganhar, para isso precisava partir para o ataque, pois o Pachuca entrava em campo classificado. O resultado todo mundo sabe, 4 a 1 para os mexicanos. Na realidade, a goleada não surpreende, afinal o time foi mais longe do que sua qualidade nos faria prever.

O atual time atleticano é o mais fraco desde 2004 quando tinha o melhor elenco do país, superior até ao Santos de Robinho. O goleiro do time, apesar de ter falhado no gol mexicano dentro da Arena, está entre os melhores do Brasil. Nas laterais, zaga e meio de campo armador, o time sofre muito. Jancarlos é fraco, embora bata na bola como poucos, o problema é que geralmente, sua permanência em campo está restrita a execução de jogadas de bola parada. Na lateral-esquerda, Michel, é uma piada em campo, até hoje não justificou sua contratação. Na zaga, João Leonardo e César, deixam a torcida com o coração na mão sempre que tocam na bola. Danilo tem a cara de um time aqui da capital paranaense, não chega a ser uma porcaria, mas está longe de ser de primeira. No meio-de-campo, não existe alguém apto a armar uma jogada, o colombiano Ferreira joga muito, mas está sozinho e preparar jogada para o ataque não é sua especialidade. Enfim, chegar nas semi-finais da Copa Sulamericana é mais do que qualquer um poderia esperar de um time que foi, facilmente, eliminado do Campeonato Paranaense pela ADAP (quem?)!

Passar pelo Pachuca seria muito difícil, deste modo, ser eliminado com uma goleada, em se tratando de Atlético, é muito melhor que ficar no "quase". Contraditório? Explico.

Em 1995, o Furacão estava na segundona, sem quaisquer perspectivas de subir. Entretanto, a diretoria de então, gostava de alardear que o time era muito bom, (é desde aquela época já era assim!) veio um Atletiba (para quem é de fora, trata-se do clássico Atlético X Coritiba), e os verdes ganharam por 5 a 1, após esta goleada, veio a "revolução" comandada por Mario Celso Petraglia, que transformou o Furacão no que ele é hoje. Ou seja, na hipótese do Rubro Negro ser eliminado, empatando o segundo jogo, ou perdendo a vaga nos penaltys, a diretoria, faria como em 95, ou como no início deste, quando o Marketing, (porque nisso o Atlético tem tradição) plantou na cabeça dos torcedores que o elenco atleticano era excelente. No começo deste ano, os dirigentes, passaram a impressão de confiar tanto no time que pouco importava quem seria o técnico, pois o clube seria campeão de tudo que disputasse, então surgiu a idéia de trazer o alemão Mathaus, para atrair a mídia internacional. Agora estamos no fim de 2006 e a conclusão é que a diretoria errou, mais uma vez.

E agora Petraglia? Qual será a atitude? Teremos em 2007 uma cópia de 2006?

segunda-feira, novembro 20, 2006

Afinal, para que serve um blog*?


A resposta a esta pergunta eu deveria ter dado há alguns meses atrás, quando criei este blog. Aliás, todos que criam um blog deveriam ter como primeiro post, uma resposta a esta indagação. Agora vou tentar corrigir esta minha falha inicial, respondendo a pergunta de forma satisfatória.

Ontem, eu estava em casa sem fazer nada de muito útil, para passar o tempo sintonizei numa das MTVs genéricas, não sei agora se era a MIX ou a PlayTV, mas este detalhe é desimportante (como disse um Oficial de Justiça para mim ontem) o que vale a pena dizer é que estava passando o clipe da nova música do Skank (muito bom o clipe, melhor ainda a música) "Uma canção é para isso", nela, retoricamente, o compositor revela para que serve uma canção, desde então eu fiquei com essa música na cabeça, chegando no trabalho fui dar uma olhada nos blogs parceiros, quando pensei comigo:

- Puxa, por que e prá (sic) que esse povo perde tanto tempo escrevendo num blog?

Alguns blogueiros, mesmo tendo outras atividades profissionais, acadêmicas ou ambas, decidem devotar tempo, pensando no que escrever, buscando notícias, escrevendo, tudo para manter seus blogs sempre atualizados, quando poderiam estar fazendo outras coisas, tão ou mais interessantes. Qual seria o objetivo de quem decide expor suas idéias à apreciação pública? Que esteja claro que aqui me refiro às pessoas cujo sustento, nada sai de seus blogs, ou seja, blogueiros como Edney, Alê Félix, Antonio Tabet, por exemplo, não entram nestas minhas especulações por razões óbvias.

Tentando responder a esta pergunta, em primeiro plano vale dizer que a Constituição Federal define o direito à intimidade como inviolável, antigamente, creio que a grande maioria da população brasileira e mundial até, buscava levar uma vida anônima, entretanto, hoje com Big Brother, Orkut, MySpace entre outros, todos querem chutar a Constituição para longe, buscando sempre algum tipo de notoriedade e a internet proporciona essa possibilidade.

Fama! A meu ver, este é um dos prováveis objetivos de quem cria um blog. Seja entre seus amigos mais próximos, seja em termos mais metropolitanos.

Outro possível objetivo é a carência afetiva. Certa vez conversando com uma amiga blogueira, ela falou que geralmente, quem tem blog é carente. Realmente, esta pode ser uma das explicações também, algumas pessoas podem sentir falta de alguém disposto a ouvi-las. Como dizia Aristóteles, o homem é um animal social, isto é, precisa interagir com os demais membros da sociedade, não importa como se dará este contato, se real ou virtual. E o blog permite tal interação de modo muito amplo. Perceba que o post inicial serve como um início de conversa, em seguida quem tiver interesse pode se valer dos comentários para continuar o papo. Além disso, é possível conhecer várias pessoas que passem pelo mesmo problema, o que ajuda a diminuir este sentimento.

Outra explicação possível é a vaidade. O sujeito vê em si próprio, tamanha importância que é necessário mostrar ao mundo sua rotina ou suas opiniões, pois na cabeça dele, todos precisam saber o que ele comeu no café da manhã, o que ele sonhou na noite passada, o que ele pensa sobre a última eleição presidencial, etc. Algo a ver com narcisismo, sabe?

Agora, pessoalmente falando, a minha motivação não se encontra em nenhuma destas cogitações. Eu tenho um blog pelo mesmo motivo que a Clarice - clique aqui para saber qual.


* A foto não tem nada a ver com o tema deste post, na verdade eu só a coloquei porque quando procurava uma foto para iniciar o texto, uma das que o Google encontrou foi ela, e como na infância eu era fã do desenho, aí está a foto.

sábado, novembro 18, 2006

Divagações na terceira pessoa - II

Cíntia, havia saído para dar uma volta, a fim de esfriar a cabeça, sabe? Sérgio ficou em casa, após sair do banho, decidiu ver televisão, pulava de canal em canal, e não encontrava nada que lhe trouxesse alguma paz de espírito. Desligou o aparelho e foi deitar, tentava esquecer aquela discussão que já era a terceira, em um mês de casado.

Ele estava questionando sobre a decisão de se casar. Notou, que na realidade ele não sentia saudades de Cíntia quando não estavam juntos, aquele momento por exemplo, sua esposa não fazia a menor falta, o detalhe é que sempre foi assim. Desde o namoro, Sérgio, sentia-se até melhor quando ela estava longe, porém, agora já era tarde o casamento estava consumado e não havia outra opção, exceto tentar uma reconciliação, muito embora isto lhe parecesse impossível, pelo menos pelos próximos dias.

Cíntia, chegou em casa espumando de raiva, passou o dia todo tentando falar com Sérgio, só que ele, por algum motivo, não estava no trabalho e não atendia ao celular. Não era a primeira vez que isso acontecia, e coerentemente, em todas as outras ela ficou furiosa. Exatamente por isso, ela estava mais nervosa, pois se ele já sabia qual seria a reação dela, por que ficar provocando? Pensava. Na cabeça dela, o motivo era um só.

Cíntia entrou em casa mais ou menos 7 da noite, Sérgio ainda não chegara, tomou um banho enquanto o aguardava. Quando ele colocou a chave na porta, ainda do lado de fora, Cíntia gritou:

- Onde você estava?

A raiva que aquela moça sentia, deixava-a incontrolável, não importava o que ele dizia, nada chegava perto de seu ouvido, quanto mais entrar, mesmo que fosse para, imediatamente, sair pelo outro. Ela dizia que ralava o dia inteiro, enquanto ele simplesmente saía do trabalho para passar o dia inteiro fora, e ainda por cima, sem atender o celular. Sérgio, no início tentou esclarecer alguma coisa, mas logo desistiu quando notou que mais uma vez, qualquer palavra dita por ele seria "solenemente" ignorada. Saiu da sala, foi para o quarto, Cíntia veio atrás, dizendo saber exatamente onde ele estava, que se ele pensava que podia enganá-la, estava muito errado, que iria contar para a mãe dela, para a mãe dele, para os amigos dela, para os amigos dele, enfim, todos iriam saber o que ele estava "aprontando".

Ao ouvir esse final, Sérgio se voltou contra ela, impressando-a contra a parede, naquele momento, pela primeira vez Cíntia teve medo de seu marido, ele estava com os olhos cheios de ira, e gritou três vezes para ela calar a boca, isso a dois dedos de distância. Ele a largou, foi tomar um banho, e ela foi dar uma volta, depois foi à casa de uma amiga.

Chegou à casa de Eliana, esta ouviu a campainha e ao abrir a porta recebeu Cíntia que estava com os olhos marejados, porém, sem perder a compostura. Eliana morava sozinha, há algumas quadras de distância, numa casa luxuosa. As duas sempre foram amigas, embora fossem de "mundos" completamente distintos. Eliana, com sua doçura tradicional, atendeu sua amiga, deu-lhe um abraço e a chamou para entrar, já imaginando o que teria ocorrido. Cíntia, não dizia nada, até perguntar se ela achava que o casamento teria sido um erro. Eliana repondeu:

- Por que você me pergunta isso? Antes de você casar, quando ainda estava namorando e veio me dizer que vocês iriam noivar, lembra quais foram as minhas palavras? Se não lembra, tente lembrar, a minha parte eu fiz. E mais, lembra qual foi a sua reação?

Cíntia respondeu:

- Verdade, quem dera eu tivesse te ouvido, está acontecendo tudo que você tinha falado...

terça-feira, novembro 14, 2006

Pena de morte não é a solução

E o tão esperado final está próximo! O sanguinolento ditador iraquiano deverá ser morto por um órgão oficial iraquiano.

Que Saddam Hussein será condenado à morte, ninguém duvida, falta saber apenas, se a pena será efetivamente executada.

Deve demorar, mas acredito que Saddam não deva ter escapatória, uma vez que certamente a ordem da execução já partiu diretamente de Washington, que enxerga na morte do ditador, uma espécie de ponto de honra, visto que a invasão do território iraquiano se transformou numa das maiores trapalhadas da história. Com a morte do antigo ditador, por mais que de agora em diante nada mais dê certo, seja nesta "guerra contra o terror", ou mesmo internamente, os republicanos sempre baterão na tecla de que o objetivo foi alcançado. Diante disso, eu não acredito que a vida do iraquiano seja poupada, pois se isso acontecer, os membros do atual governo dos Estados Unidos deixarão o poder com a sensação de terem fracassado, o que seria inadmissível para os "poderosos" norte-americanos.

Porém, não é isso que me interessa agora, a eminente execução de Saddam Hussein foi só o gancho para o assunto que realmente quero tratar neste post: pena de morte. Pretendia escrever algo sobre isso, no entanto, surgiu um problema - pensando melhor, conclui que tudo o que eu poderia dizer contra o instituto já foi dito. Afinal este assunto é na lista dos assuntos mais comentados, só deve perder para o "aborto"! Este tema já foi exaustivamente abordado, internet à dentro, todos os argumentos relevantes, tanto favoráveis quanto contrários, já foram suficientemente expostos, a própria Mary, minha amiga blogueira (que está à beira de se transformar na minha amiga ex-blogueira), já tratou do assunto com muita competência. Por estes motivos não vou escrever os textos como costumo e gosto de fazer, irei ressaltar apenas dois aspectos, dentre outros extremamente relevantes, que me levam ser contra a pena capital:

1º - é justo matar alguém após passado o calor dos fatos? Entendo que não. Imagine a seguinte situação: você está andando, tranquilamente, pela rua quando alguém vem e encosta uma arma na sua cabeça, ameaçando atirar se você não passar sua carteira. Você não tem dinheiro, ele não acredita e quando o asssaltante está a ponto de atirar, você consegue tirar a arma de sua cabeça e tem início uma luta entre os dois. No calor dessa luta, se surgir a oportunidade, você tem o direito de matar o assaltante? Eu penso que sim. E se acontecer de durante esta luta você conseguir vencê-lo, acertando um golpe fulminante, que acaba por deixar o assaltante desacordado. Você tem o direito de pegar a arma que ele portava e apertar o gatilho matando-o? Neste caso, acho que a sua resposta será pela negativa. Certo?

Assim, a pergunta que deve ser respondida é: seria correto matar alguém que já está dominado pelo aparato Estatal? Claro que não, por isso a pena de morte não deveria nunca ser adotada por qualquer país que respeite os direitos humanos;

2º - desconheço ocasiões em que o sujeito antes de cometer qualquer tipo de crime, consulte o Código Penal, para decidir se deve praticá-lo ou não. O criminoso, sempre tem a idéia de que não será pego, esta forma de pensar é intuitiva. Ou seja, pouco importa se a pena prevista é de morte ou outra menos grave, não é a gravidade da pena que inibe a criminalidade, e sim, a certeza da punição cumulada com medidas sociais.

Por tudo isso, e algumas coisas mais é que algumas pessoas repetem como se fosse um mantra: "pena de morte não é a solução!" É muito clichê dizer isto, mas não é mesmo.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Enquete sobre a Justiça

Durante o julgamento do responsável pela morte de seu filho, uma mãe clama por "Justiça". Na televisão em seu programa das tardes, Sonia Abrão ao tratar do caso "Richtofen", só fala em "Justiça". Na Bíblia temos em diversas passagens, a promessa de que o "justo" terá sua recompensa. Um grande traficante aqui de Curitiba, foi preso na semana passada, pouco tempo depois de adquirir alguns contêiners de cocaína, agora ele pede a devolução da matéria apreendida, dizendo ser medida de Justiça. Um amigo meu diz que é injusto o Silvio Santos ter o direito de andar de ônibus de graça, em razão da idade, e ele sendo pobre, não ter o mesmo direito simplesmente por não ter alcançado a idade mínima necessária para a isenção. Eu entendo não ser justo alguém receber o salário que é pago a mim. É injusto alguém ganhar tão pouco assim. Caramba! Tudo isso tem a ver com a Justiça mesmo?
O conceito de Justiça sempre foi motivo de discórdia entre os grandes pensadores da humanidade. Entre os romanos foi definido como a virtude que consiste em dar a cada um, em conformidade com o direito, o que por direito lhe pertence. Inclusive, essa é a definição encontrada no dicionário mais famoso do Brasil, o Aurélio.
Aristóteles dizia que o conceito de Justiça estava intrinsicamente ligado à lei, sendo seguido por diversos outros filósofos, como Hobbes, Montesquieu, Rousseau, entre outros. Ou seja, justo é o que está permitido em lei, e injusto o que está proibido.
O povo Hebreu, diversamente, reduzia a Justiça à lei divina, ou seja, quem cumpria a lei ditada por Moisés, era considerado justo.
Em termos legais, no Brasil, alguns juristas afirmam que o princípio da igualdade, contido no artigo 5º da Constituição da República, é o que mais se aproxima do que se pode chamar de Justiça.
Existem ainda outras duas correntes filosóficas que me inspiraram a colocá-las como opções na enquete ali ao lado. A primeira é a do utilitarismo, esta corrente entende que para analisar a Justiça de um ato, é necessário analisar as consequências deste, sempre que o resultado for satisfatório, o ato é justo, quando não, o ato é injusto. Por meio desta tese mostra-se inteiramente justo, enxergar-se numa pessoa um instrumento para alcançar um fim maior.
Em contrapartida, temos os não-consequêncialistas, cujo expoente maior atendia pelo nome de Immanuel Kant. Os defensores desta corrente, entendem que Justo é ter nos seres humanos um fim em si mesmo, nunca um instrumento, por mais que o objetivo visado seja altamente agradável.
Bom, diante disto, vale dizer que eu ainda não encontrei um conceito, totalmente, satisfatório para ser aplicado à Justiça, porém gostaria de saber a opinião de outras pessoas sobre o tema. Você que está lendo este post agora, se puder, deixe seu voto nessa enquete aí ao lado, ou se você, não se satifez com estas opções deixe um comentário expondo seu entendimento.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Estrangeirismos


Um tempo atrás, na "Blogueiros", uma comunidade do Orkut, surgiu uma discussão sobre o chamado estrangeirismo, mais especificamente o anglicismo. Tudo começou porque alguém notou que algumas pessoas costumam se utilizar de palavras inglesas, mesmo nas hipóteses em que há equivalentes em português. Neste texto, (aproveitando que blog aceita tudo!) pretendo expor minha opinião sobre esse tema.

Certamente, a introdução de palavras provenientes de línguas diversas, muitas vezes oxigena um idioma, tornando-o mais dinâmico, e a meu ver não há nada de desastroso nessa "importação". No entanto, deve ser ressaltado que em primeiro lugar deve ser buscado no idioma nativo a expressão apropriada, caso esta não seja encontrada, aí sim poderia ser utilizada uma estrangeira. Isto é, não se deve aceitar passivamente a prática de empregar palavras de outros idiomas, quando no nosso existe uma capaz de exercer, a contento, determinado papel. Por exemplo, algumas lojas, especialmente nos shoppings centers, costumam estampar em suas vitrines: 50% off, em vez de 50% de desconto. E também no ambiente corporativo, nos quais as pessoas gostam muito de pedir um feedback em vez de pedir uma opinião.

Deste modo, quando uma palavra estrangeira servir para ocupar um espaço até então vazio no português, ou ainda para introduzir um novo conceito, serão muito bem vindas, por exemplo: o campo da informática é terreno fértil para a utilização de palavras estrangeiras, especialmente inglesas, tais como blog, mouse, spam, entre outras, além de neologismos como, deletar, clicar etc. Todas essas palavras penetraram no nosso quotidiano carregando uma carga conceitual nova, além de estarem confinadas ao já citado, campo da informática, por isso não há motivo para recusá-las.

O problemas é que hoje em dia muitas pessoas utilizam-se de estrangeirismos, com o intuito de transparecer atualidade ou até mesmo demonstrar possuir mais cultura que as demais. A explicação para essa idéia, até certo ponto equivocada, talvez encontre alguma explicação na origem do idioma português. Entre os romanos, existia o latim literário e o latim falado pela camada popular, ou latim vulgar, foi este último que soldados, colonos e funcionários romanos transportaram para as regiões por eles conquistadas, dando origem ao nosso português. Enquanto isso, o latim literário somente era utilizado por uma pequena elite culta, como Cícero e Horácio. Talvez resida neste ponto a razão para que em todas as épocas algumas pessoas tenham tido a idéia de inserir palavras estrangeiras no meio de suas frases. Aparentemente, pretendem com isso, diferenciarem-se da maioria. Antigamente era o francês que exercia o papel do latim literário, depois da segunda guerra, o inglês assumiu esta condição.

Resta esclarecer, entretanto, que esta prática de utilizar palavras estranhas ao idioma falado no Brasil é mais ridículo que perigoso. E ao contrário do que pensa o deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), autor de um projeto de lei que pretende regulamentar a utilização do idioma português, o melhor modo de se impedir a descaracterização da língua portuguesa, é por meio de campanhas de conscientização e não por meio de leis, que muito provavelmente serão ignoradas.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Divagações na terceira pessoa (ou quase)

Sérgio, era uma pessoa pouco confiante, introspectivo, cheio de medos e um pouco confuso, entretanto, isso ele guardava para si, seus colegas e amigos mais próximos nunca perceberam estas características, sempre o descreviam de forma exatamente oposta, alguém com extrema confiança nele mesmo, extrovertido e muito decidido. Por isso, todos, invariavelmente, ao receberem a notícia levavam um choque muito grande. Cíntia, sua esposa, que recebeu a notícia, via celular enquanto subia a escada do prédio no qual trabalhava, sentiu como se tivesse levado um soco na ponta do queixo, perdeu os sentidos, caiu, rolou escadaria abaixo, sua cabeça abriu, espalhando sangue, degrau a degrau.

Nem a família do rapaz, tinha uma explicação para aquele ato. Sandro, seu colega de trabalho ficou perplexo, não conseguia acreditar no que estava ouvindo, assim como todos os outros não tinha uma explicação para aquilo e decidiu tentar descobrir a razão que levara seu amigo a cometer aquele ato extremo. Ele só sabia que Sérgio, num determinado dia afirmara querer largar tudo e ir embora, mas não sabia de onde tirar forças. No dia em que ouviu essa confissão, Sandro, não prestou muita atenção nas palavras de seu colega, afinal ele tinha seus próprios problemas, sem contar que Sérgio, não lhe parecia lá muito encrecado, como aquela frase faria supor.

Em sua busca por respostas, a primeira pessoa a quem Sandro queria se reportar, não poderia ajudá-lo, pois estava morta, seria Cíntia, a esposa que morreu ao ter a notícia do ocorrido. Então, ele pensou na mãe de seu colega, dona Cláudia. Ela lhe falou que seu filho nunca demonstrara tendência a cometer aquele ato, o máximo que ela poderia dizer é que, até o dia de seu casamento, estranhamente, ele nunca pareceu estar muito feliz com aquele acontecimento, que se aproximava dia após dia. Segundo suas palavras, certa vez ela o indagou a respeito de sua aparente indiferença, mas ele como de costume, não quis falar sobre o assunto, preferindo sair com piadinhas nervosas, tentando aparentar uma irreverência descompromissada, que obviamente não existia.

Apesar de d. Cláudia estar tão desinformada quanto ele, já eram duas as informações que Sandro dispunha: Sérgio, não estava satisfeito com alguma coisa. Pensou que tal insatisfação não poderia estar relacionada à sua vida profissional, pois eles trabalhavam juntos e naquele ambiente, Sérgio era um dos que menos reclamava de sua rotina de trabalho, no entanto, descartou esta premissa já que Sérgio também nunca falou que faria o que fez, e mesmo assim acabou fazendo. As informações ainda não eram concludentes, faltavam muitas peças naquele quebra-cabeça, porém, Sandro estava disposto a descobrir o que tinha levado o seu amigo a fazer aquilo...

quarta-feira, novembro 01, 2006

Recado das urnas

Passadas as eleições, resta-nos agora tentar entender o porquê da ocorrência destes resultados.
No plano federal, o resultado foi mais do que previsível! Aparentemente, todos os escândalos de corrupção não abalaram o prestígio de Lula perante seu eleitorado, pois em 2002 ele foi eleito com 61,3%, contra 38,7% de José Serra, e agora, pelo número de escândalos ocorridos, sua votação baixou muito pouco, alcançando o percentual de 60,83 pontos, contra 39,17 de Geraldo Alckmin. Entretanto, apesar desse resultado, não acredito que o presidente Lula tenha a força, quase mítica, que aparenta ter, até porque muitos de seus aliados, tais como Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, Aloísio Mercadante em São Paulo ou Espiridião Amin em Santa Catarina perderam, isto é, a transferência de votos não é automático.
A força de Lula está na fraqueza de seus adversários, muitos eleitores apesar de não concordarem com a corrupção havida no governo petista, o modo como a política econômica foi domada ou com alguns pontos da política externa, optaram por depositar seu voto nele a ter o PSDB, novamente, na direção da nação, ou seja, mais que dizer "sim" ao "lulismo", foi dito "não" ao "tucanismo", muito embora, não seja possível a "olho nu", enxergar uma diferença entre ambos os estilos.
Por falar nisso, outro ponto que deve ser lembrado ao ser feita uma análise do resultado dessas eleições, é que o eleitor em geral, não consegue enxergar uma diferença clara entre os membros da classe política, por exemplo, aqui no Paraná foi distribuída propaganda eleitoral na qual ligava o canditado do PDT, Osmar Dias, a Lula e a Geraldo Alckmin, ao mesmo tempo, o candidato do PMDB, Roberto Requião, adotou procedimento idêntico, por isso as pessoas fizeram o seguinte raciocínio: "todo político é igual, então eu vou votar em quem me ajudou!" E Lula ajudou muita gente com o Bolsa-Família e com os excelentes reajustes do salário-mínimo, estes seus dois cabos eleitorais mais relevantes.
No entanto, o que me chama mais atenção é a votação de Geraldo Alckmin, que foi inferior no segundo turno, em relação ao primeiro. Qual fator teria levado alguém a votar nele na primeira oportunidade, e não o fazer na segunda chance? A resposta a essa pergunta, a meu ver, não existe, podemos apenas especular: Algumas pessoas andaram dizendo que o candidato tucano foi muito duro com Lula no debate na Bandeirantes, não vejo dessa forma, entendo que o fator mais significativo neste aspecto foi o oportunismo demonstrado por Geraldo Alckmin, pois sendo ele do mesmo partido de FHC, o presidente que promoveu as maiores privatizações na história do Estado brasileiro, cabia a ele defender e justificar esta opção, e não simplesmente renegar o passado, comprometendo-se, supostamente, a não privatizar outras empresas, o povo ao contrário do que muitos pensam, não é burro, e viu essa atitude como inaceitável por ser obviamente eleitoreira.
Mas se eu for elencar os erros da oposição neste pleito, um post seria pouco.
Bom, agora chega de eleição, vou tirar umas férias desse assusto...vou ver até quando consigo!