É quase impossível tratar do tema "aborto" sem fazer muitas referências à religião! Sem qualquer referência é inviável. Pois bem, neste post não vai ser diferente, aqui tratarei basicamente da postura da Igreja Católica diante da prática do abortamento.
De início quero dizer que se existe um assunto controverso este é o aborto. Creio que desde o surgimento dos primeiros homens e mulheres na Terra isto vem sendo debatido. Sempre que alguém quer criar polêmica trata logo de falar sobre o aborto, eu lembro que no colégio era assim. Quando um professor estava com preguiça de dar aula, mandava que nós abríssemos uma roda na sala e logo pedia para debatermos o tema. Não dava outra, o pau quebrava, principalmente quando apareciam as "crentinhas" com suas pregações religiosas, sempre com aquela história de que a vida foi dada por Deus e que abortar seria uma ofensa a Ele e blá...blá...blá... esse papo me dava sono, e olha que eu sempre fui evangélico! Enfim, aborto é sinônimo de polêmica.
Para os primeiros pensadores da Igreja Católica - Santo Agostinho e São Tomás de Aquino - o abortamento poderia ser tolerado até o 40º dia de gestação e esta acabou sendo a posição oficial da Igreja até que o Papa Sixto 5º, veio e acabou com a brincadeira, porém sua postura não resistiu a sua morte e o Papa que o sucedeu reformou a decisão anterior estabelecendo que feto é feto e pessoa é pessoa, ou seja, abortamento não seria sinônimo de homicídio. Isso durou até o início do papado de Pio 9º que acabou decidindo por considerar a concepção como o marco inicial da vida, deste modo aborto era uma inadmissível ofensa a Deus, e quem se atrevesse a ofender a Deus deveria ser anatematizado. Nos anos 60 e 70 do século passado (finalmente consegui uma chance para usar isso!) algumas mulheres passaram a querer deixar de pilotar fogão e começaram a fazer barulho, queimar sutiã, entre outras coisas, acabando com o pouco de sossego que nossos colegas homens tinham na época. Para mostrar independência, levantaram a bandeira do aborto, diziam elas que o corpo lhes pertencia, por isso poderiam fazer dele o que bem entendessem; logicamente, a Igreja Católica por meio do Papa Paulo VI reafirmou sua posição contrária editando a encíclica Humanae Vitae, sob a justificativa de que o aborto seria sim!, sinônimo de homicídio, posto que desde a concepção haveria o chamado "sopro divino", alma, em outras palavras. Sendo seguida pelas demais igrejas cristãs. Desde então, o Catolicismo deixou os vacilos para trás e tem conclamado seu rebanho a se posicionar não só contra o abortamento, como também contra qualquer método de contracepção como a pílula, por exemplo, outra bandeira feminista. Sempre sob o argumento de que é preciso defender a família, e o abortamento surgiria como séria ameaça aos laços familiares.
A Igreja ao editar esta última encíclica repudiava a revolução comportamental que "assolava" o ocidente, com medo de que se não houvesse a reafirmação da moral católica, danos irreversíveis poderiam ser causados ao planeta como um todo. Por isso o abortamento deveria ser combatido sem trégua, ninguém poderia praticá-lo, pouco importando a religião que professasse, por esta razão diversos países até hoje não o admitem em nenhuma hipótese, ou como no Brasil, somente em casos bem específicos. E levando em conta o poder da bancada parlamentar religiosa em quase todos estes países conservadores, descriminalizar o ato do abortamento é quase impossível.
No plano político, esta postura da Igreja Católica, acabou por atrair boa parte das elites nos países ocidentais, colocando lado a lado política e religião, fato este que servirá de alimento ao fundamentalismo religioso que se verificou após o fatídico ano de 1968, ano de publicação da tal Humanae Vitae. A Direita, como seria de se esperar, fechou com a Igreja, se posicionando contra a prática, enquanto que à Esquerda, via de regra, coube o papel de apoiar as mulheres que desejassem realizar um "planejamento familiar", (termo que na realidade não passa de mero eufemismo para abortamento). Em alguns países onde a legislação permite uma gama maior de hipóteses que autorizariam a prática, muitos radicais de extrema-direita fizeram opção pelo terrorismo contra defensores e clínicas especializadas, de forma a facilitar a vida dos analistas, pois demarcaram de modo claro a linha divisória existente entre o direitismo extremado e o moderado.
Atualmente, a sociedade brasileira tem discutido muito sobre um possível aumento no número de hipóteses para a realização de abortamento legalizado, ao ponto do ministro da saúde José Carlos Temporão ter proposto a realização de um plebiscito. De fato, permiti-lo somente nos casos de risco a gestante ou de gravidez decorrente de estupro é excesso de conservadorismo religioso, mas isso fica para o próximo post.
Chegou até aqui? Eeee, parabéns, eu não chegaria...