domingo, outubro 14, 2007

Tropa de Elite, chegou a minha vez

"Não gosto de armas! Elas são ruins, matam pessoas!
Matam pessoas??!! Vamos ver então - coloca uma arma sobre a mesa - mate alguém! Vamos, arminha, seja boazinha!
Viu só?! Armas não matam ninguém, pessoas matam. Pessoas são ruins."

Esta é uma reprodução, mais ou menos fidedigna (transcrevo de memória) de um diálogo travado numa série animada do canal de tv americano Fox, chamada "American Daddy". Mais tarde volto a ela.

Finalmente fui assistir ao hit do momento: Tropa de Elite!, e antes de entrar na polêmica que se criou em torno da fita, devo dizer que como entretenimento, o filme é excelente. Foge daquele maniqueísmo insuportável, tão presente nas casas brasileiras, com as novelas que pipocam em quase todas as emissoras do país. A história consegue ser bem realista na medida em que ninguém é totalmente bonzinho ou totalmente malvado, exatamente, como somos todos nós na vida real. O capitão Nascimento, é o narrador e o personagem principal, porém, nem de longe pode ser considerado o mocinho ou herói da trama. Ele, ao longo da história, alterna momentos de extrema brutalidade, como na cena em que esfrega a cara de um suposto estudante no corpo ensanguentado de um sujeito há pouco abatido pela tropa, com outras que poderiam ser consideradas cenas típicas do "homem de bem", como quando ele está tentando trocar as fraldas de seu filho recém nascido. O mesmo valendo para o Baiano, principal "vilão" na história. Isso, por si só, já é mais do que suficiente para este filme entrar na minha lista dos melhores que já pude assistir.

Mas, voltando do cinema, um ponto de interrogação ficou cravado na minha testa: não consigo entender o motivo que levou certos setores sociais a rotular o filme de "fachista", como diria Diogo Mainardi. Acredito que alguns foram levados a fazer tal afirmação, em razão de uma análise superficial do enredo. Tá certo que há evidente desrespeito aos direitos humanos mais básicos, de um modo que a direita se delicia, já que os afetados integram a classe social inferior, no entanto, também há a acusação de que a classe média é hipócrita quando organiza passeatas pela paz ou escreve artigos raivosos em jornais de grande circulação, somente quando a violência a atinge, sem esquecer da acusação de que as ONGs, criadas pela elite contam com fins meramente eleitoreiros ou sexuais, além de servirem para que seus criadores as usem para auto-promoção, como no caso do apresentador Luciano Huck. Diante disso, ficou pra mim a pergunta: será o filme ao mesmo tempo de direita e de esquerda?, será isso, um sinal de indecisão do diretor? Ao final concluí que não! O filme, apesar de - numa análise superficial, como eu disse - em certos momentos, aparentar pregar a instituição de um estado de exceção para combater o tráfico, no frigir dos ovos, apenas pretende mostrar uma realidade, num tom até certo ponto documental, e é aí que entra o diálogo inicial.

Afirmei lá em cima que o filme em si, não me parece ser fascista ou comunista, de direita ou de esquerda, não creio ser esta a abordagem pretendida pelos produtores, o problema é que quem assiste ao filme, ao contrário, pode não o fazer com a mesma isenção, o que me levar a crer que muito provavelmente certos setores da sociedade em pouco tempo deverão transformar a fita num exemplo de como deve ser o comportamento do Estado no combate à criminalidade (em especial, contra os que roubam rolex por aí), exatamente como já vem acontecendo. Pegue-se o exemplo de Luciano Huck, um dos mais famosos representantes da elite brasileira, que na maior tranquilidade, pede para o capitão Nascimento vir resolver o problema da segurança pública no país, já que na visão limitada do global, somente ele - ou alguém que seguisse sua cartilha - poderia resolver a questão.

Então, de agora em diante, não se espante se na próxima manifestação da turma dos cansados for entoada a principal canção de todas as tropas de elite, Brasil a dentro: "Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um pega geral, também vai pegar vocêê!" Além de saírem por aí, numa demonstração de burrice, pedindo o capitão Nascimento na cadeira da presidência da República. E não se diga que isso será culpa do diretor, José Padilha, que teria dirigido um filme fascista, pois a culpa será de quem assiste o filme que numa prova ainda maior de burrice, consegue ver no capitão Nascimento um herói, em vez de um sujeito envolvido num drama pessoal, pelo qual vários policiais devem passar também.

3 comentários:

Cássio Augusto disse...

Cara... ñ vi o filme ainda... até pq cidade pequena é complicado... mas as cópias piratas já estão rolando por aqui... acho que logo poderei assistir!!!

Dorian disse...

Omar,
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Anônimo disse...

Realmente eh um saco ouvir as pessoas rotularem o filme.