sexta-feira, outubro 26, 2007

O erro de Luciano Huck

Ao parar num sinaleiro da cidade de São Paulo, lá por volta do final do mês setembro*, começo de outubro, Luciano Huck, teve seu "Rolex" levado por um sujeito montado na garupa de uma moto, em seguida, num tom de desabafo, publicou um artigo na "Folha de S. Paulo", na sequência diversas vozes se levantaram comentando o artigo, algumas concordaram outras o criticaram muito.
Ao redigir o texto mais controverso dos últimos tempos, o global fez o que (guardadas as devidas proporções) qualquer um faria ao sofrer uma injustiça - extravasou sua revolta! O problema não foi a exteriorização dessa revolta (seria uma grande idiotice dizer que ele deveria agradecer aos céus, por ter perdido SÓ o relógio, como andaram dizendo por aí), seu erro foi a forma como expôs essa revolta.



A carta enviada à redação da "Folha", tem um conteúdo horroroso, lá você encontra um misto de arrogância com ignorância, regado ao mais puro fascismo. Por falar em fascismo, vou aproveitar e abrir um parêntese neste parágrafo, para dizer que no post sobre o filme "Tropa de Elite", eu afirmo não enxergar no filme qualquer apelo fascista, pois no meu entender ali há apenas a tentativa de apresentar uma realidade, em momento algum é possível dizer que os produtores referendam o comportamento do Capitão Nascimento, pelo contrário, há uma cena na qual outro comandante de outra "Tropa" (não lembro agora se de elite também, mas acho que sim), se recusa a participar de uma missão seguindo os métodos "nascimentianos". Desta forma, concluo que o fascismo está em quem assiste e vê na forma como o capitão Nascimento trata os supostos bandidos a salvação da sociedade brasileira. Por exemplo, a "Veja" mostrou ser fascista, já que na capa da edição dedicada à discussão gerada pela fita, disse que no filme "bandido é tratado como bandido", ou seja, aplaudiu os métodos nada ortodoxos da personagem de Wagner Moura; o mesmo pode-se dizer de Luciano Huck, pois no texto publicado pela "Folha", ele chamou o capitão Nascimento para começar a "discutir segurança pública de verdade".

Fechado este parêntese, volto ao tema deste post. Como já disse, após a publicação de seu desabafo, meio mundo caiu de pau em cima do homem, 50 mil reais mais pobre, vendo seu colega ser massacrado por alguns, a turma da revista "Época", decidiu socorrê-lo, saindo com uma capa na qual Luciano Huck aparece com um post-it tampando sua boca, com a pergunta: "Ele merecia ser roubado?" A capa da revista sugere que no fundo quem o critica queria que ele aceitasse a injustiça calado, além de no editorial, acusar o brasileiro de ser invejoso e incoerente. Invejoso por criticar Luciano simplesmente por ele ser rico e famoso, e incoerente por ver no assaltante uma vítima e na verdadeira vítima, um criminoso. Creio que ao abordar o tema desta forma, a "Época"pretende pôr um ponto final nas críticas direcionadas ao queridinho das "Caras" da vida, já que é impossível alguém responder "sim", à indagação estampada na capa da revista.

Obviamente Luciano não merecia ser roubado, não merecia ter uma arma apontada para sua cabeça, só um imbecil diria algo diferente disso, porém, o mesmo vale para as milhares de pessoas que enfrentam a mesma violência diariamente. Ninguém merece passar por este tipo de experiência. O erro do astro global não foi se indignar ao ter sofrido esta violência, seu erro é entender que direitos são como bens que se compram na venda da esquina, assim quem tem mais dinheiro compra mais direitos, quem tem menos dinheiro, consequentemente, compra menos direitos. A impressão que se tem é que ele achou injusto um sujeito qualquer, levar seu rolex "gratuitamente", mas ao mesmo tempo não vê nada de errado quando um policial arromba a porta de um morador da favela, mete-lhe o "saco da verdade" na cabeça, torturando-o para descobrir onde está o cara que ele está caçando. Provavelmente, na sua mente limitada, a lógica é que como o favelado não paga "uma fortuna" em impostos, não comprou o direito à sua integridade física e moral.



* Este blog anda com cheiro de naftalina, admito, já que nos últimos tempos, só tem tratado de assuntos velhos, mas é que eu estou com o tempo livre cada vez mais reduzido, por isso, por gentileza, faça de conta que o debate sobre o assalto de Luciano Huck teve início ontem ou anteontem, no máximo.

5 comentários:

Cássio Augusto disse...

Então... mas como diria o Secretário de Segurança Pública do Rio... "Um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coreía é outra"... e viva o Brasil... e viva o Fascismo disfarçado de "Ordem"!!!

Anônimo disse...

Já fui assaltada com um revolver na cabeça, qualquer barulho estranho simplesmente me apavora, todos nós temos direito a segurança, pagando menos ou mais impostos, mas simplesmente ignoram isso.
Já passamos da hora de discutir a segurança publica neste país, mas será feito por quem?
Pelos políticos, ou pela sociedade omissão e acomodada que somos, ou pela turminha da paz que financia o tráfico.
Mesmo sem ter visto o filme( o que talvez demore, até chegar as locadora e muito antes dele ser feito) eu vibro, quando um bandido é morto, um a menos, por mais que se discuta a reestruturação social neste país, pouco é feito. Não sei que nome pode se dar a isto, mas já virou lei de sobrevivência.

Abraços

Cássio Augusto disse...

Cara... ainda sobre o tema... tem um belo texto do cantor zaca Baleiro publicado na Folha de São Paulo... recebi por e-mail... dê uma procurada!!!

Anônimo disse...

Acredito que qualquer sociedade que passe por cima dos direitos humanos possuí algo de fascista, porém nos regimes fascistas havia ORDEM, algo bastante discutível na sociedade brasileira. Acredito que todo intelectual que discuta o a questão social devia ter uma experiência numa comunidade carente ou favela. A decepção seria clara, perceria-se que há outro Estado em que as questões se invertem. Além do mais, as pessoas não querem mudar o país, querem apenas "entrar no esquema". Algo triste. Atualmente não vejo nenhuma luz no fim do túneo.
Abs.

Arthurius Maximus disse...

A grande realidade é que artistas, se acham acima de qualquer coisa. por serem famosos, acham que ao serem abordados por ladrões, os mesmos os reconhecerão e dirão: Pô desculpa chefe, sou seu fã.
Paralelamente a isso, há o preconceito e o pedantismo oriundos do poder econômico. Por serem ricos, não só os artistas, acham-se melhores que os outros e passíveis de maior proteção da sociedade. Vide o episódio das ovadas em Ipanema.
A grande realidade é que ninguém está mais seguro. E se as elites continuarem se achando imunes em suas fortalezas endinheiradas, a cisa só tende a piorar.