sábado, dezembro 08, 2007

CPMF: é tudo uma questão de poder

Hoje em dia no Congresso Nacional, não se fala em outra coisa que não a CPMF. Os governistas consideram o tributo indispensável para o país, já os oposicionistas pensam de forma oposta. Percebeu que eu não me referi a este ou aquele partido político? É sempre assim: quem está no poder, invariavelmente, é a favor do aumento da carga tributária ou no mínimo de sua manutenção, enquanto que quem está fora, quer sempre reduzí-la. Não pense que isso decorre de divergência ideológica, nada disso. Esse antagonismo é fruto, meramente, da posição ocupada por cada uma das partes envolvidas.

Para que você veja como eu não estou mentindo, vou relembrar a posição de alguns dos principais envolvidos no debate a respeito da CPMF:

O senador Jorge Bornhausen é um caso típico de que ser a favor ou contra a CPMF é mera questão de estar ou não no poder. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo de 7 de novembro de 2007, ele se mostrou contrário à prorrogação:


"Num país em que já são cobrados 64 tributos diferentes e certamente ocorre a maior desproporção entre o peso dos impostos sobre a população e a retribuição desse dinheiro em serviços e fortalecimento do Estado, a CPMF é indefensável. Seja do ponto de vista da técnica tributária, seja pela incidência perversa sobre os mais pobres, seja pelo desestímulo ao desenvolvimento -a incidência de 0,38% em todas as operações financeiras de um único evento desorganiza qualquer sistema de produção-, a CPMF não resiste a nenhuma lógica."
Interessante esta repentina preocupação com os mais pobres pelo senador catarinense, mas onde ela estava em 2002?

"O presidente nacional do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), disse a interlocutores que a aprovação da CPMF (Contribuição provisória sobre Movimentação Financeira) é uma 'questão de honra' para ele. Segundo a Folha apurou, o pefelista teria completado: 'se uma parcela do partido insistir em não votar, entrego o meu cargo de presidente [do partido]'. [...] Bornhausen tem demonstrado irritação com alguns integrantes do PFL que aproveitam o momento para se vingarem do Palácio do Planalto por causa de disputas passadas."

Mas não pense você que esta incoerência é privilégio dos atuais representantes da oposição. Com Lula não é diferente. Veja o que ele disse em 1998, antes de chegar ao poder:

"Nós já tivemos brigas homéricas dentro do partido sobre a CPMF. A contribuição não é uma solução e o dinheiro arrecadado não é aplicado na saúde. [...] sou contra a CPMF."
Nem é preciso mostrar "o depois", mas vá lá:

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta sexta-feira como 'estupidez' a não-aprovação da prorrogação da CPMF e acusou os políticos contrários à contribuição de inveja e mesquinhez, dizendo também que há quem não goste do tributo porque ajuda a combater a sonegação. 'As pessoas sabem que a CPMF é extremamente importante para a estabilidade fiscal, para a estabilidade da economia deste país. Se fizerem estupidez, eu acho que o Brasil pagará um preço', disse Lula após visitar o arquiteto Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro. 'Eu acho que não pode faltar um dia.'"

Agora, justiça seja feita, o PMDB, os mensaleiros PP, PTB e PR (ex-PL), ao lado dos tucanos, tem se mostrado bastante coerentes, neste episódio. E você que não é nenhum idiota, já deve saber o porquê disso, claro. O PMDB e a bancada mensaleira, integravam a bancada governista quando a Fernando Henrique, comandava o Executivo nacional, e o PSDB está na expectativa de voltar a ocupar este posto.

Por isso, não perca seu tempo seguindo o posicionamento desta ou daquela agremiação política, pois certamente, mais cedo ou mais tarde ela irá te trair.

5 comentários:

Cássio Augusto disse...

Pois é... dançando conforme a música!!!

Anônimo disse...

quem vc pensa que é, Deus?

sabe, essa não eh a primeira vez q eu passo por aqui, mas eh a primeira vez q eu comento e quer saber? jah gostei mais desse blog, acho que nos ultimos tempos vc se perdeu.

Anônimo disse...

O que ameaça gravemente a Democracia de um país é quando oposicionistas e mídia se aliam com vistas não somente a desgastar o governo perante à sociedade, mas a impedir que governe.

Aliada aos meios de comunicação, por mais minoritária que uma oposição seja ela ganha um poder adicional para atrapalhar a governabilidade.

Dorian disse...

E agora o governo perdeu com votos contra da base aliada. Mesmo assim quer colocar a culpa da derrota na oposição e não assume que sua articulação política é no mínimo incompetente.

Anônimo disse...

Belo achado. Seria interessante encontrarmos os discursos de outros, também.

abração,