Algum tempo atrás, aqui mesmo neste blog, eu disse que queria ser autor de novela, mudei de idéia! Ah, já que até um BBB* resolveu seguir por este caminho, decidi que não quero mais essa vida. Agora pretendo ser comentarista esportivo. Além de ter menos responsabilidade, ainda não tem o risco do pessoal do Pânico ficar querendo que eu calce as "Sandálias da Humildade".
Ser comentarista esportivo é bem fácil. Você não precisa saber nada do assunto, diga algumas obviedades outras loucuras, não tem problema. Saber não é preciso, basta que os outros pensem que você sabe. Para isso, faça aqueles comentários genéricos, como no caso dos que trabalham com o futebol, critique o esquema tático, fale que este ou aquele jogador está mal posicionado. A uma certa altura diga que o técnico tem de tirar fulano e colocar sicrano, se isso acontecer é a glória e o comentarista sabe do que está falando - não importa se até dois minutos atrás, a equipe de transmissão inteira estava metendo o pau no técnico. Se este fizer outra alteração, tudo bem, é só continuar metendo o pau nele. Sem falar, que o sujeito fica ali, sentadão, sendo pago pra assistir aos eventos, comendo uns salgadinhos, tomando umas biritas, enquanto o narrador fica lá se esgoelando. E tem mais, o narrador se expõe à medida que tem de falar durante o tempo inteiro, correndo o risco de falar muita besteira, já o comentarista em razão de só falar quando é chamado, fica resguardado. Vez ou outra ele fala alguma coisinha aqui outra ali, só prá justificar o salário, como por exemplo: "O técnico tá errado! Tem de tirar o quarto zagueiro, e colocar um centro-avante, prá dar mais força ofensiva ao time." Ou, "O árbitro tá vendo outro jogo, só pode, se aquilo não foi penalty, eu não sei mais o que é!" Ou, como disse o Neto (meu provável guia na profissão) durante uma transmissão do campeonato italiano, comentando sobre a possível contratação de Jorginho (aquele lateral-direito na Copa de 1994) pelo Flamengo para ocupar o posto de técnico do time: "Ah, o Flamengo não pode fazer experiência, se eu fosse presidente do clube, contrataria do Muricy Ramalho ou o Wanderley Luxemburgo!" Viu só? Simples. Até a minha filha recém-nascida poderia ter feito esse comentário, se soubesse falar. Assim, você pode notar que a responsabilidade do comentarista é zero, pois nada do que ele fala ou escreve será posto à prova.
Como você viu, ser considerado um bom comentarista de futebol é mole, mas o importante é você não acreditar no que seus colegas falam. Esse cuidado não pode ser esquecido nunca. Comentarista é comentarista, não técnico. Se algum dia, o comentarista começa a acreditar que é excelente, como seus companheiros de transmissão repetem, insistentemente, vai querer pôr em prática as besteiras que ele dizia lá de cima na cabine, e daí vai acontecer o que aconteceu com o Mário Sérgio, ex-comentarista da Band que um dia acreditou nas mentiras contadas pelos narradores e repórteres, e inventou de treinar alguns times, afundou! Hoje, nem sei onde ele está, mas creio que não é nem comentarista e muito menos técnico e se estiver no comando técnico de algum time, deve ser o do condomínio onde mora.
Por tudo isso, quero ser comentarista esportivo. Será que agora eu consigo trocar de profissão?